quarta-feira, 23 de abril de 2014

Mundo monocultural- o que meus alunos querem quando falamos em cultura?

A disciplina do Professor Leandro Cristóvão foi de extrema valia em minha formação, não só pela competência do docente em ministrar os conteúdos relativos à ementa proposta, mas também pela importância dos mesmos no contexto de sala de aula de língua estrangeira. Diversos autores entraram em cena em nossos encontros , tais como : Foucault, Moita Lopes, Walsh, Candau, Hall, Bauman, Paraquett, Raja, Cush, Falabella, Coracini,  entre outros, e tiveram seus escopos ampliados por meio das discussões incitadas pelo Professor Leandro.

Ressalto um texto muito significativo trabalhado na disciplina, o de  Moita Lopes (2005): "O ensino de inglês como espaço de embates culturais e de políticas da diferença".

Ao longo do texto, o teórico promove a reflexão a respeito  do lugar da cultura na ensinagem de uma LE. No intento de "desconstruir" um pressuposto do ensino do "código central da cultura" (NOSTRAND, 1985, 51 apud MOITA LOPES, 2005, 50), o autor distancia-se de uma visão reducionista e homogeneizante dos fatores culturais nos contextos de ensino de LE. O parágrafo de abertura do tópico "Monoculturalismo X Multiculturalismo" sustenta nossa visão acerca do artigo mencionado: 
 "Esta ideia tradicional sobre o ensino de uma cultura em LE tem-se pautado por uma visão objetivista e homogênea de cultura: um pacote que o aluno de LE tem que assimilar para poder usar tal língua, naturalizando, assim, os embates/conflitos culturais e as diferenças que constituem as culturas vividas por pessoas que usam tal língua. (...) incorpora-se pasteurizações do tipo: 'os britânicos  são assim... os americanos são assado". (MOITA LOPES, 2005, p.51). 

Que pacote ofereço aos meus alunos quando ensino o ELE? O que os meus alunos querem aprender de cultura?

Trago o exemplo de Moita Lopes (2005) sobre os povos anglófanos para a  (velha) conhecida alteridade entre espanhol latino e peninsular. Em quantos momentos já citei: En cualquier plaza mayor española , se le pide al camarero un zumo de naranja; sin embargo,decile al mozo en Argentina que querés un buen jugo de naranja, no intuito de ressaltar diferenças lexicais e pragmáticas. 

Os espanhóis são assim... os argentinos são assado... será que podemos afirmar que todos os espanhóis gostam de paella ou que todos os argentinos dançam tango?

Como aluna da graduação da Uerj, vivenciei dois momentos de imersão linguística: um , na Universidad de Salamanca  e outro na Universidad de Tucumán. No centro e na periferia, se tomamos a realidade tucumana afastada (e muito) da sociedade padrão bonarense. 

Quando cheguei à Espanha,. as páginas do curso de idiomas globo saltaram pelos meus olhos: as terrazas, a paella, la zeta interdental, o padrão... mas... nem tudo era como mostravam os livros. Onde estaria todo o "glamour espanhol" quando vi uma marcha pelos direitos das pessoas homossexuais, com suas gírias e  com seus idearios de luta? Por que seriam, então, apagadas essas formas legítimas de expressão da língua e porque não da senhora "cultura",em nome de uma padronização? 

Por que a Argentina precisa se resumir ao trinômio tango-dulcedeleche-maradona, se há uma Argentina que os argentinos não possuem "cara de Argentino" (veja só...), se alimentam a base de milho , o doce de leite é caro e a principal dança não é o tango? 


Estaremos, portanto, a oferecer aos alunos um "souvenir de aeroporto", como postula Moita Lopes (2005) no ensino de LE? 

E, caso nos distanciemos desse produto esteriotipado:

1- Os alunos aceitarão?
2- O sistema aceitará?
3- O professor estará disposta a aceitar ?

Longa discussão...



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