Resenha
do texto de: PAIVA, Vera. A tecnologia na docência de línguas estrangeiras:
convergências e tensões. In: FRADE, Isabel Cristina da Silva et. al. (org.). Convergências e tensões no campo da formação
e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 595-613.
O artigo intitulado “A tecnologia na
docência de língua estrangeira, de Paiva (2010) propõe uma discussão acerca das
inovações tecnológicas no ensino de línguas estrangeiras; discussão esta posta
pela autora no limiar de aspectos convergentes e tensionados. Além disso, o
artigo ressalta políticas governamentais de incentivo à inserção tecnológica, apresenta
considerações sobre a formação docente e o uso tecnológico e relata
experiências sobre o projeto Taba Eletrônica, desenvolvido na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
No
início do texto, Paiva (2010) destaca a importância das tecnologias no
cotidiano e os benefícios trazidos pelas mesmas à organização social e à vida
cotidiana, com ênfase no fenômeno da convergência midiática, entendida como a
junção de múltiplas funções em um único aparelho (p.ex. o celular e o
computador), o que acarreta intensa produção de informação (textos) e
conhecimento.
Outro ponto apresentado em relação
ao panorama da convergência é a criação de políticas de ampliação do acesso à
informação, em que instâncias governamentais estariam imbricadas em favorecer o
alcance tecnológico a todos os estratos sociais. A autora cita diversas
iniciativas públicas nessa área, a saber: o projeto Enlaces (chileno, iniciado
em 1993 e direcionado ao ensino primário e secundário[1] e à capacitação docente),
o Word Links (com início em 1997 e financiado pelo Banco Mundial como suporte
político à inclusão de alunos e professores) e os de esfera nacional, como a
manutenção do banco internacional de objetos educacionais, da UAB, o Portal da
CAPES, a biblioteca virtual Domínio Público e o PROINFO. Este último recebe
avaliação positiva de Paiva (2010), que expõe dados favoráveis ao investimento
tecnológico por parte do Ministério da educação e cultura (MEC).
Apesar dos supracitados programas
objetivarem a utilização das redes técnicas de conhecimento como forma de
inclusão social (e alunos, professores e espaços escolarizados são inseridos
nesse processo), há, para a autora, ainda que de forma aparente, uma falta de
convergência no uso tecnológico pelos docentes; daí a faceta tensionada do tema
tecnologia educacional. A teórica elenca fatos que justificam sua posição em
encarar a inserção tecnológica no espaço educacional enquanto gesto tensionado
por parte do professorado: o desconhecimento, a resistência ao novo, a falta de
habilidades em manipular aparelhos eletrônicos, dentre outros de cunho
comportamental como a inércia e a preguiça. Contudo, deve-se sublinhar a
efemeridade como elemento intrínseco ao tecnológico, motivo no qual parece
suscitar a pouca familiaridade dos professores com os usos de novos suportes.
E por falar no docente: que postura
este “ator educacional” deve tomar diante dos new gadgets e do mundo dos megas e micro bytes? Paiva (2010)
postula que os professores precisam exibir confiança no uso das tecnologias e
evitar a “falácia técnica”. Em outros termos, não se deve atribuir totalmente o
sucesso ou o fracasso do ensino-aprendizagem pela presença/ausência
tecnológica.
A respeito da formação docente em
língua estrangeira, a autora defende a inclusão do tema tecnologia nas fases
iniciais e continuadas dessa etapa e traz a voz de Chapeler (2000:6 apud PAIVA,
2010:562): “os professores de segunda língua hoje precisam ser capazes de
escolher, usar e em alguns casos, recusar tecnologias para seus alunos”.
Trataremos da afirmação mais adiante. Mesmo que muitas universidades tenham
criado núcleos e grupos de pesquisa sobre produção de materiais e ensino de
língua “online”, a autora afirma ser ainda muito incipiente o desenvolvimento
do conteúdo tecnológico na formação de professores. De fato, como discente de
Letras de renomada universidade, vivenciei poucos momentos voltados à produção
de material “online”, debruçando mais os esforços em tomar a tecnologia como
suporte (uso do youtube, editor de textos, power points) à utilização
presencial com os alunos.
Como política de formação aos “novos
tempos”, Paiva (2010:564 apud Healey et.al.
2009:6) apresenta a iniciativa da TESOL e seus parâmetros concernentes à formação
docente na área tecnológica, quais sejam: “reconhecer a importância de se
integrar à tecnologia no ensino, saber o que se espera deles em termos de
conhecimento, habilidades e de implementação de currículo; entender a
necessidade de aprendizagem continuada em suas carreiras profissionais; e ser
desafiado a alcançar um maior nível de proficiência no uso tecnológico”.
A fim de colaborar com o
conhecimento sobre o uso tecnológico, a autora cita algumas ferramentas
interessantes e recomenda a apropriação da tecnologia utilizada pelos alunos de
maneira a dirimir lacunas existentes entre o mundo escolar e o mundo ao redor.
Paiva (2010) relata também experiências profícuas a respeito do projeto
Taba eletrônica, do qual é coordenadora na UFMG. O referido projeto visa ao
desenvolvimento de pesquisas em linguagem e tecnologia, elaboração de materiais
didáticos e inovações tecnológicas direcionadas a docentes e discentes. Por
fim, conclui que o uso tecnológico se insere no âmbito pedagógico (em especial no
ensino de línguas) na tensão e na convergência, urge modificações na formação
docente a fim de contemplar os conteúdos tecnológicos e explicita ser o ensino
de línguas mediado por computador (doravante ELMC) ainda um processo contínuo de
transformações.
Decerto, a questão tecnológica influencia significativamente no
cotidiano social. Encurtam-se distâncias, pessoas (separam-se) aproximam-se e
realizam-se procedimentos em frações de segundos. E o âmbito educacional, em
especial o ensino de línguas estrangeiras, ganha relevância nesse processo. A
língua em sua dimensão “real” pode ser acessada em poucos minutos por um “www”
e a (não) comunicação com os “nativos” e
a leitura de diferentes materiais podem
(des) auxiliar o professor na empreitada do Ensino de LE.
Se
há por um lado a preocupação em fornecer equipamentos digitais aos espaços
educativos, falta por outro a inserção do tema tecnológico na formação dos
professores, fato destacado por Paiva (2010) ao longo do texto. Cada vez mais
ferramentas tecnológicas são deslocadas de suas utilizações originais e
implementadas com objetivos educacionais, assim como a produção de suportes já
direcionados a esses objetivos. No entanto, os currículos destinados a formar
docentes aparentam certa falta de consonância com o advento tecnológico dos
“novos tempos”, se pensamos principalmente na formação inicial docente de LE,e
torna-se um tema a ser contemplado
(talvez) numa etapa de formação posterior.[2]
É
preciso, portanto, observar a tecnologia como aliada ao ensino e não torná-la a
única responsável pelo êxito ou insucesso do trabalho docente, fator que
evitaria a “falácia técnica”, apontada por Paiva (2010). Atualmente, a substituição
dos quadros “negros” (ou brancos) pelos seus correspondentes digitais é motivo
mercadológico de atração de alunos por parte de instituições escolares privadas.
Outdoors pela cidade podem ser vistos
com “frases de efeito”: “adentramos o mundo tecnológico” ou “venha estudar com
o quadro interativo”, como se a presença desse instrumento fosse suficiente
para promover um ensino qualitativo.
Há de se pensar, também,
quando o uso tecnológico é único meio de contato com alunos de língua estrangeira [3], situação
em que a “falácia tecnológica” ressaltada pelo imaginário de supremacia da
máquina tem especial destaque. Certamente que o domínio dos aparatos e softwares é essencial ao professor e
corrobora com a aprendizagem da LE. Destaco o uso dos fóruns, das atividades de
múltipla escolha interativas, da montagem do glossário e de ferramentas de
webconferências promotoras de encontros síncronos presenciais como mediadores
vantajosos no percurso do ensino “on line” de línguas. No entanto, a presença do professor enquanto elemento
ativo (e não mero espectador do high tech)
no ELMC é de fundamental importância, uma vez que o mesmo aponta os caminhos,
sana dúvidas, oferece materiais complementares e fornece feedbacks às produções
dos aprendizes.
Assim
sendo, o advento tecnológico urge a presença de disciplinas na formação
docente, em que professor possa refletir a respeito de seu uso ou “desuso”: nem
sempre todas poderão ser colaborativas ou eficazes, o que ocasiona a “recusa”
do professor expressa por Healey et. al. (2009). Uma formação para além da
manipulação passiva do high tech e que realmente contribua com o ensino eficaz
de LE.
[1] Preferiu-se manter a terminologia proposta por Paiva (2010) de ensino primário e secundário em contraponto a ensino fundamental e médio; termos possivelmente mais próximos das
designações dos níveis educacionais em espanhol: primaria e secundaria, visto o projeto ser desenvolvido no Chile.
[2] A especialização em “Ensino de Línguas Estrangeiras” do CEFET-RJ, destinada
a ser um espaço de formação continuada do docente de LE, demonstra apresentar
certo interesse em oferecer ao seu público-alvo conhecimentos sobre o uso das
novas tecnologias, por incluir em seu currículo o módulo de “Tecnologias no
ensino de línguas estrangeiras”, ministrado pela Profª Adriana Ramos, além de
suscitar investigações na área, haja vista a disponibilidade de vagas de
orientação na linha de pesquisa da docente mencionada.
[3] Como tutora de espanhol do Curso de idiomas virtual
(CIV), destinado aos militares de carreira do Exército Brasileiro, mantenho a
interação com os alunos participantes mediada pelas atividades síncronas e
assíncronas não presenciais disponíveis no AVEA (ambiente virtual de
ensino-aprendizagem) e pela troca de mensagens via correio eletrônico e whatsapp (ferramenta de mensagens “instantâneas”
por celular). O único momento presencial do curso é a realização da avaliação
somativa,em que os alunos comparecem às organizações militares previamente
escolhidas e prestam provas de
compreensão leitora,auditiva e expressão escrita.
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