sexta-feira, 7 de março de 2014

Resenha do texto de Paiva

Resenha do texto de: PAIVA, Vera. A tecnologia na docência de línguas estrangeiras: convergências e tensões. In: FRADE, Isabel Cristina da Silva et. al. (org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 595-613.

            O artigo intitulado “A tecnologia na docência de língua estrangeira, de Paiva (2010) propõe uma discussão acerca das inovações tecnológicas no ensino de línguas estrangeiras; discussão esta posta pela autora no limiar de aspectos convergentes e tensionados. Além disso, o artigo ressalta políticas governamentais de incentivo à inserção tecnológica, apresenta considerações sobre a formação docente e o uso tecnológico e relata experiências sobre o projeto Taba Eletrônica, desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
            No início do texto, Paiva (2010) destaca a importância das tecnologias no cotidiano e os benefícios trazidos pelas mesmas à organização social e à vida cotidiana, com ênfase no fenômeno da convergência midiática, entendida como a junção de múltiplas funções em um único aparelho (p.ex. o celular e o computador), o que acarreta intensa produção de informação (textos) e conhecimento.
            Outro ponto apresentado em relação ao panorama da convergência é a criação de políticas de ampliação do acesso à informação, em que instâncias governamentais estariam imbricadas em favorecer o alcance tecnológico a todos os estratos sociais. A autora cita diversas iniciativas públicas nessa área, a saber: o projeto Enlaces (chileno, iniciado em 1993 e direcionado ao ensino primário e secundário[1] e à capacitação docente), o Word Links (com início em 1997 e financiado pelo Banco Mundial como suporte político à inclusão de alunos e professores) e os de esfera nacional, como a manutenção do banco internacional de objetos educacionais, da UAB, o Portal da CAPES, a biblioteca virtual Domínio Público e o PROINFO. Este último recebe avaliação positiva de Paiva (2010), que expõe dados favoráveis ao investimento tecnológico por parte do Ministério da educação e cultura (MEC).
            Apesar dos supracitados programas objetivarem a utilização das redes técnicas de conhecimento como forma de inclusão social (e alunos, professores e espaços escolarizados são inseridos nesse processo), há, para a autora, ainda que de forma aparente, uma falta de convergência no uso tecnológico pelos docentes; daí a faceta tensionada do tema tecnologia educacional. A teórica elenca fatos que justificam sua posição em encarar a inserção tecnológica no espaço educacional enquanto gesto tensionado por parte do professorado: o desconhecimento, a resistência ao novo, a falta de habilidades em manipular aparelhos eletrônicos, dentre outros de cunho comportamental como a inércia e a preguiça. Contudo, deve-se sublinhar a efemeridade como elemento intrínseco ao tecnológico, motivo no qual parece suscitar a pouca familiaridade dos professores com os usos de novos suportes.
            E por falar no docente: que postura este “ator educacional” deve tomar diante dos new gadgets e do mundo dos megas e micro bytes? Paiva (2010) postula que os professores precisam exibir confiança no uso das tecnologias e evitar a “falácia técnica”. Em outros termos, não se deve atribuir totalmente o sucesso ou o fracasso do ensino-aprendizagem pela presença/ausência tecnológica.
            A respeito da formação docente em língua estrangeira, a autora defende a inclusão do tema tecnologia nas fases iniciais e continuadas dessa etapa e traz a voz de Chapeler (2000:6 apud PAIVA, 2010:562): “os professores de segunda língua hoje precisam ser capazes de escolher, usar e em alguns casos, recusar tecnologias para seus alunos”. Trataremos da afirmação mais adiante. Mesmo que muitas universidades tenham criado núcleos e grupos de pesquisa sobre produção de materiais e ensino de língua “online”, a autora afirma ser ainda muito incipiente o desenvolvimento do conteúdo tecnológico na formação de professores. De fato, como discente de Letras de renomada universidade, vivenciei poucos momentos voltados à produção de material “online”, debruçando mais os esforços em tomar a tecnologia como suporte (uso do youtube, editor de textos, power points) à utilização presencial com os alunos.
            Como política de formação aos “novos tempos”, Paiva (2010:564 apud Healey et.al. 2009:6) apresenta a iniciativa da TESOL e seus parâmetros concernentes à formação docente na área tecnológica, quais sejam: “reconhecer a importância de se integrar à tecnologia no ensino, saber o que se espera deles em termos de conhecimento, habilidades e de implementação de currículo; entender a necessidade de aprendizagem continuada em suas carreiras profissionais; e ser desafiado a alcançar um maior nível de proficiência no uso tecnológico”.
            A fim de colaborar com o conhecimento sobre o uso tecnológico, a autora cita algumas ferramentas interessantes e recomenda a apropriação da tecnologia utilizada pelos alunos de maneira a dirimir lacunas existentes entre o mundo escolar e o mundo ao redor.

Paiva (2010) relata também experiências profícuas a respeito do projeto Taba eletrônica, do qual é coordenadora na UFMG. O referido projeto visa ao desenvolvimento de pesquisas em linguagem e tecnologia, elaboração de materiais didáticos e inovações tecnológicas direcionadas a docentes e discentes. Por fim, conclui que o uso tecnológico se insere no âmbito pedagógico (em especial no ensino de línguas) na tensão e na convergência, urge modificações na formação docente a fim de contemplar os conteúdos tecnológicos e explicita ser o ensino de línguas mediado por computador (doravante ELMC) ainda um processo contínuo de transformações.
Decerto, a questão tecnológica influencia significativamente no cotidiano social. Encurtam-se distâncias, pessoas (separam-se) aproximam-se e realizam-se procedimentos em frações de segundos. E o âmbito educacional, em especial o ensino de línguas estrangeiras, ganha relevância nesse processo. A língua em sua dimensão “real” pode ser acessada em poucos minutos por um “www” e a  (não) comunicação com os “nativos” e a leitura de diferentes materiais podem  (des) auxiliar o professor na empreitada do Ensino de LE.
            Se há por um lado a preocupação em fornecer equipamentos digitais aos espaços educativos, falta por outro a inserção do tema tecnológico na formação dos professores, fato destacado por Paiva (2010) ao longo do texto. Cada vez mais ferramentas tecnológicas são deslocadas de suas utilizações originais e implementadas com objetivos educacionais, assim como a produção de suportes já direcionados a esses objetivos. No entanto, os currículos destinados a formar docentes aparentam certa falta de consonância com o advento tecnológico dos “novos tempos”, se pensamos principalmente na formação inicial docente de LE,e torna-se um tema a ser  contemplado (talvez) numa etapa de formação posterior.[2]  
            É preciso, portanto, observar a tecnologia como aliada ao ensino e não torná-la a única responsável pelo êxito ou insucesso do trabalho docente, fator que evitaria a “falácia técnica”, apontada por Paiva (2010). Atualmente, a substituição dos quadros “negros” (ou brancos) pelos seus correspondentes digitais é motivo mercadológico de atração de alunos por parte de instituições escolares privadas. Outdoors pela cidade podem ser vistos com “frases de efeito”: “adentramos o mundo tecnológico” ou “venha estudar com o quadro interativo”, como se a presença desse instrumento fosse suficiente para promover um ensino qualitativo.  
                Há de se pensar, também, quando o uso tecnológico é único meio de contato com alunos de língua estrangeira [3], situação em que a “falácia tecnológica” ressaltada pelo imaginário de supremacia da máquina tem especial destaque. Certamente que o domínio dos aparatos e softwares é essencial ao professor e corrobora com a aprendizagem da LE. Destaco o uso dos fóruns, das atividades de múltipla escolha interativas, da montagem do glossário e de ferramentas de webconferências promotoras de encontros síncronos presenciais como mediadores vantajosos no percurso do ensino “on line” de línguas. No entanto,  a presença do professor enquanto elemento ativo (e não mero espectador do high tech) no ELMC é de fundamental importância, uma vez que o mesmo aponta os caminhos, sana dúvidas, oferece materiais complementares e fornece feedbacks às produções dos aprendizes.
            Assim sendo, o advento tecnológico urge a presença de disciplinas na formação docente, em que professor possa refletir a respeito de seu uso ou “desuso”: nem sempre todas poderão ser colaborativas ou eficazes, o que ocasiona a “recusa” do professor expressa por Healey et. al. (2009). Uma formação para além da manipulação passiva do high tech e que realmente contribua com o ensino eficaz de LE.






[1] Preferiu-se manter a terminologia proposta por Paiva (2010) de ensino primário e secundário em contraponto a ensino fundamental e médio; termos possivelmente mais próximos das designações dos níveis educacionais em espanhol: primaria e secundaria, visto o projeto ser desenvolvido no Chile.  
[2] A especialização em “Ensino de Línguas Estrangeiras” do CEFET-RJ, destinada a ser um espaço de formação continuada do docente de LE, demonstra apresentar certo interesse em oferecer ao seu público-alvo conhecimentos sobre o uso das novas tecnologias, por incluir em seu currículo o módulo de “Tecnologias no ensino de línguas estrangeiras”, ministrado pela Profª Adriana Ramos, além de suscitar investigações na área, haja vista a disponibilidade de vagas de orientação na linha de pesquisa da docente mencionada.          

[3] Como tutora de espanhol do Curso de idiomas virtual (CIV), destinado aos militares de carreira do Exército Brasileiro, mantenho a interação com os alunos participantes mediada pelas atividades síncronas e assíncronas não presenciais disponíveis no AVEA (ambiente virtual de ensino-aprendizagem) e pela troca de mensagens via correio eletrônico e whatsapp (ferramenta de mensagens “instantâneas” por celular). O único momento presencial do curso é a realização da avaliação somativa,em que os alunos comparecem às organizações militares previamente escolhidas  e prestam provas de compreensão leitora,auditiva e expressão escrita.

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