terça-feira, 8 de outubro de 2013

Aprendizagem Comunitária - Metodologia de Ensino de Línguas Estrangeiras



Trabalho final da Disciplina: Metodologia do Ensino de Línguas Estrangeiras

A Aprendizagem Comunitária da Língua é a denominação resultante do método idealizado por Charles A. Curran, o qual, baseado na teoria do Conselho Psicológico de Rogers (1951), toma a aprendizagem enquanto processo de orientação, entendida como uma relação entre um assessor (nesse caso o professor- cuja função é o de aconselhar) e seus clientes (os alunos assessorados). Tal orientação se dá a partir da aplicação de técnicas humanísticas (Moskowitz, 1978), que visam à autorrealização e a valorização da autoestima do aluno por meio das interações entre os pares e o docente.

            A visão sobre a língua subjacente ao método ultrapassa o conhecimento sistêmico formal e é encarada como um processo social, fruto do contato, conforme exposto anteriormente, entre professor e aluno e alunos entre si. Cabe destacar a relevância do fator afetivo nas trocas entre os citados sujeitos por criar um espaço de intimidade de forma a corroborar com a constituição da comunidade de alunos, fato que parece intensificar o ritmo de aprendizagem dos mesmos. A afetividade advinda dessas relações pode ser considerada como um fator positivo do método, uma vez que esses contatos demonstram favorecer principalmente o desenvolvimento das destrezas orais , campo no qual a Aprendizagem Comunitária da Língua aparenta ser melhor empregada.

            Partindo de uma relação de dependência em que o aluno recorre ao “conselho” do professor sobre o que deseja falar na língua alvo até a fase de independência, o método compara as etapas de aprendizagem à ontogênese humana: ao final do processo, “a criança- aluno” torna-se “adulto”, e poderia “formar” um novo discente. Dessa forma, questiona-se a formação do professor nesse método: que saberes estão em jogo quando se pensa a formação docente? Pode-se afirmar que um aluno, após ter alcançado o estágio de “independência linguística”, estaria apto a “aconselhar” outros ? Acredito ser a formação docente um campo de articulação de saberes além dos de ordem linguística e a possibilidade de “formar” professores após a passagem pelas etapas de aprendizagem constitui-se uma desvantagem do método.

Ao considerar o desenho proposto pela Aprendizagem Comunitária da Língua, observa-se que o mesmo poderia ser aplicado de maneira profícua em cursos de conversação iniciais, citado por Richards e Rogers (1986:96- nossa tradução) como “a maior parte do que se escreveu sobre o método acerca de sua utilização”.  Os alunos, no decorrer das aulas, optam sobre os temas a serem discutidos e o que gostariam de trocar com os outros companheiros e não há um programa de conteúdos a ser seguido.  Nesse sentido, pensa-se que a faixa etária destinada ao curso poderia constituir-se de jovens e adultos, mais “autônomos¹” do que em outras idades.

O material didático a ser utilizado no curso é construído coletivamente com os alunos a partir de suas produções orais, fator vantajoso para a aprendizagem dos discentes, posto que se direcionaria às dificuldades apresentadas no momento da interação e não impõe um conteúdo linguístico específico, o que poderia “engessar” a fala dos aprendizes.

Outro fator relevante na Aprendizagem Comunitária da Língua é a utilização da tradução como meio de aprendizagem da língua alvo. O professor no papel de assessor  é o “modelo linguístico”  a ser seguido pelos alunos, que o indagam sobre a sentença que será proferida na língua alvo. Destaca-se também a utilização de gravações orais (o que salienta a vantagem do método em ser aplicado em contextos de conversação) para posterior apreciação do grupo.

Sobre a utilização da tradução na ensinagem de uma língua estrangeira,  direcionado ao trabalho com a competência oral, faz-se necessário uma indagação: até que ponto a excessiva tradução afeta o processo de formação de autonomia do aluno em “arriscar” estruturas da língua alvo? E quanto ao professor a trabalhar com o método: poderia ser um nativo, já que o conhecimento da língua fonte é indispensável nos procedimentos propostos pelo método?

Assim sendo, a Aprendizagem Comunitária da Língua parece obter certo êxito em contextos de cursos de conversação tendo em vista as discussões supracitadas (escolha de materiais, gravações orais e construções de material coletivo, principalmente). 


1- Não se exclui a autonomia em outras faixas etárias e nem a possibilidade de opção por parte dos alunos como ocorre no método,  visto ser a mesma considerada um meio e um fim da educação moderna. No entanto, a realidade educacional brasileira e dos cursos livres baseia-se na explicitação prévia de temas e conteúdos, o que relega ao aluno ( e ao professor) pouco espaço de escolha.
 

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